Procurando uma viagem diferente que seja ao mesmo tempo rica em cultura, proporcione experiências gastronômicas excepcionais, a chance de ver paisagens naturais exuberantes e praticar esportes radicais? Que tal aproveitar a oportunidade de matar seus amigos de inveja e ir a um lugar onde nenhum de seus colegas que conheçam Paris, a Disney ou a Espanha tenham sequer pensado em visitar ou consigam encontrar no mapa?
Adicione a tudo isso a oportunidade de esquiar gastando quase nada, conhecer alguns dos povos mais amáveis e hospitaleiros do planeta e poder dizer que você esteve em dois continentes – Europa e Ásia – ao mesmo tempo, em um local não muito mais distante do que outras partes da Europa.
Ainda não está convencido? É bom saber então que estes países estão entre alguns dos destinos mais econômicos do mundo – com o valor gasto em uma semana em destinos “batidos” europeus é possível passar quase o dobro de tempo no Cáucaso vivendo como um rei ou rainha.
Armênia, Azerbaijão e Geórgia, países do sul do Cáucaso, são um destino fantástico, com milhares de anos de história, religião, além de arte e gastronomia próprias. Localizados na fronteira natural que divide a Europa da Ásia, nem seus habitantes têm certeza sobre em qual continente vivem. Trilhas, monastérios, cachoeiras, museus, boa música e cidades de extrema boemia são apenas algumas das surpresas que aguardam o visitante que apostar nesta região, que no passado era o reduto de férias preferido dos habitantes da extinta União Soviética.
Armênia – Paisagens naturais e belas esculturas.
Dos países do Cáucaso, a Armênia é provavelmente aquele com os quais os brasileiros estão mais familiarizados. Nosso País abriga uma vigorosa comunidade de descendentes de armênios e personalidades como a atriz Aracy Balabanian e o jornalista José Gasparian são famosos em todo o Brasil. O bordão “vou por tudo isso na chón”, criado por Aracy Balabanian, quando, em 1990, interpretou a personagem Dona Armênia, na novela global Rainha da Sucata, ainda é escutado comumente.
Apesar do nome do país ser familiar, poucas pessoas têm, entretanto, uma ideia clara das maravilhas e preciosidades que este pequeno país do Cáucaso reserva aos turistas. A Armênia de hoje é apenas uma fração do que um dia já foi um grande reino, que se estendia por grande parte da atual Turquia, Irã e outros pontos do Cáucaso. O século XX foi brutal com o país e sua população – um genocídio até hoje não reconhecido por muitos países perpetrado pelos turcos otomanos dizimou 1,5 milhões de armênios em 1915. Duas guerras contra a Turquia reduziram o território do país a menos de 20% de seu tamanho original e a incorporação à União Soviética, seguida da independência na década de 1990 e uma nova guerra – desta vez contra o vizinho Azerbaijão – fizeram com que a população do país encolhesse.
Hoje em dia, há mais armênios vivendo no exterior do que no país.
O mais surpreendente é que apesar da história trágica, os habitantes do país continuam com a cabeça erguida, orgulhosos de suas raízes milenares, otimistas e – acima de tudo – calorosos e hospitaleiros com os visitantes. Não se espante se após uma conversa de 15 minutos com um armênio você já esteja sendo tratado como membro da família e convidado para jantares, festas e casamentos.
Quer mais motivos para visitar o país? Acrescente então o fato de a Armênia ter sido o primeiro país a adotar o cristianismo como religião oficial no ano 301, décadas antes da Roma antiga. Esta rica tradição pode ser vista em todos os cantos do país, onde igrejas e monastérios com a excepcional e delicada arquitetura da Igreja Ortodoxa Armênia pode ser observada – a espiritualidade sentida em capelas iluminadas por velas e com forte cheiro de incenso é emocionante.
A natureza local também é deslumbrante – lagos cristalinos rodeados por montanhas, cidadezinhas alpinas com chalés de madeira, além de vales verdejantes pontilhados por pessegueiros, macieiras, cerejeiras e árvores de apricot e romã floridas, que exalam um cheiro adocicado e mágico. Há ainda canyons multicoloridos, montanhas cobertas de neve com estradinhas que passam acima das nuvens, lagoas de águas termais, um dos maiores teleféricos do planeta, florestas de pinheiro e áreas semidesérticas que parecem se fundir com o horizonte.
Turistas urbanos e apreciadores de cultura certamente não se desapontarão com a capital do país. Yerevan, conhecida como a cidade cor-de-rosa, é a mais soviética das capitais do Cáucaso. Apesar de a cidade reter muito da sem-graça arquitetura dos anos socialistas, a grande diferença aqui é que as construções utilizaram pedras-tufo que deixaram a cidade inteira colorida em tons rosa e violeta. Yerevan possui uma infinidade de bons bares e uma cultura de cafés que rivaliza cidades como Roma ou Paris. A cidade é toda decorada por parques, belas esculturas, prédios grandiosos e dezenas de fontes. Além disso, os museus e galerias de arte da cidade estão entre os melhores do Cáucaso.
Por fim, apreciadores de conhaque certamente ficarão entusiasmados com a possibilidade de provar diversas variedades da bebida, que é o produto nacional por excelência e está entre os melhores do mundo. Segundo relatos oficiais, o estadista britânico Winston Churchill dizia que não havia melhor conhaque do que o armênio – mais uma excelente desculpa para vir ao país e comprovar se ele estava certo.
Geórgia – A terra dos contos de fadas.
Imagine um país onde as cidades têm ruazinhas estreitas e ladrilhadas, os casarões antigos de madeira têm grandes varandas e são pintados de cores fortes e vibrantes. Imagine um país com igrejinhas, fortalezas e monastérios enfeitando cada montanha. Um lugar onde prédios centenários convivem com pontes modernas sobre rios tranquilos em um ambiente que lembra as grandes fazendas do Brasil do século XIX.
Imagine florestas verdejantes de pinheiros, cascatas e montanhas cobertas de neve próximas a pequenos vilarejos, onde os habitantes são tão hospitaleiros que lhe convidam para um almoço logo após vocês se conhecerem. Um país que sabe o que a vida tem de melhor a oferecer – bons vinhos, uma cozinha deliciosa e original, banhos públicos relaxantes com direito a massagem e esfoliamento, além de boas compras a preços módicos.
Este país existe e se chama Geórgia. O turista é recebido de braços abertos, a prestatividade da população chega a ser constrangedora e as oportunidades para o visitante parecem ser inesgotáveis. Quer um ambiente cosmopolita com lojas de grifes e prédios modernos? O país tem. Que tal esquiar em ótimos resorts pagando menos do que uma boa refeição em São Paulo ou no Rio de Janeiro? Também é possível lá.
Se o que você busca é cultura e religiosidade, não irá se decepcionar com os três patrimônios da humanidade chancelados pela UNESCO no país – a entidade está considerando incluir ainda outros 15 monumentos e regiões da Geórgia em sua lista. Por fim, há ainda opções quase inesgotáveis de fazer trilhas espetaculares em meio à natureza do Cáucaso, visitar vinícolas e até mesmo tomar sol às margens do Mar Negro. Há ainda museus peculiares, como aquele dedicado ao revolucionário soviético Joseph Stalin, que nasceu na Geórgia, na pequena cidade de Gori, a poucos quilômetros de Tbilisi.
A Geórgia está começando a ser descoberta pelo mundo e há diversidade suficiente no país para agradar do mochileiro ao turista mais exigente. Não perca tempo – aproveite o dólar barato, faça suas malas e venha para um destino mágico e quase intocado antes que os turistas comecem a chegar em massa. Você certamente não irá se arrepender.
Azerbaijão – Caviar, desertos e vulcões, um verdadeiro contraste.
Poucos países no mundo são tão intrigantes quanto o Azerbaijão. Uma terra de contrastes coberta quase que totalmente por desertos de pedra e areia, o país possui uma geologia única com depósitos de gás natural que ao longo dos séculos criaram fissuras onde o fogo surge espontaneamente. Essa magia encantou persas, indianos e os povos do Cáucaso, que cruzavam meio mundo para chegar à “Terra do Fogo” e fazer oferendas aos deuses do Zoroastrismo, Animismo e Hinduísmo.
A geografia foi generosa com este pequeno país, que também possui grandes reservas de petróleo às margens do Mar Cáspio, de onde um dos melhores caviares do mundo é extraído. Povos antigos deixaram suas marcas em pinturas rupestres, templos e petróglifos. Incríveis vulcões de lama são também parte da paisagem do país, que graças à sua localização ao sul do Cáucaso conta ainda com picos nevados, rios e geleiras.
A história do Azerbaijão é turbulenta – invasões turcas, árabes, persas, mongóis, bolcheviques, russas e otomanas garantiram uma fusão cultural única. Os azeris falam uma língua similar ao turco, possuem características físicas e religião similar aos iranianos, mas adotam a cultura, modo de vida e liberalidade dos russos.
O país foi parte da antiga União Soviética e alguns traumas dos anos de socialismocontinuam presentes. O país é controlado por um governo semiditatorial, onde as liberdades de expressão e manifestação são extremamente limitadas. O turista praticamente não sente essas limitações, mas jovens azeris admitem em conversas privadas que anseiam por mais liberdades. Além disso, o Azerbaijão perdeu cerca de 15% do território que possuía durante os anos soviéticos em uma guerra com a vizinha Armênia que ainda acirra os ânimos.
Tudo isto, aliado a uma das capitais mais lindas do mundo, Baku, que em alguns pontos chega a lembrar Paris, a hospitalidade quase compulsiva dos azeris e uma cozinha local de deleitar até gourmands experientes, tornam o país um dos destinos mais fascinantes do planeta – e o melhor de tudo, se você vier agora, terá a chance de conhecer o Azerbaijão antes da chegada dos milhões de turistas, que certamente aportarão por aqui nos próximos anos.